TROVAS NOVAS 81
O amor quando chega traz,
Avisos, por vezes aos molhos,
Que tudo pode é, capaz,
Que lhe deu uns lindos olhos!
Ó morte, não venhas breve,
Quero uns anos mais viver,
A terra é, mistura de neve,
A visão que me faz tremer!
Meia vida é a candeia,
Diz o ditado com sabedoria,
Pão e vinho, outra meia,
Que nos sustenta e guia!
O mundo é uma comédia,
Cada um descreve seu papel,
Pra uns é palco de tragédia,
Pra outros é palco de mel!
Não há cabeça mais duras,
Que certas cabeças vazias;
Estão no ar, mas não seguras
Com ideias de fantasia!
Cá neste mundo redondo,
Dizia um, com uns copos n’asa,
Se o mundo acaba, m’escondo,
Não estou seguro em casa!
Com dinheiro tudo s’alcança,
Com dinheiro se compra e dobra…
Mas o tempo um dia o amansa,
Acaba na boca da cobra!
Morena! Ouve diz que sim,
À noite nas canas t’espero,
Tudo que se passar no jardim,
É amostra como te quero!
N’um livro d’um tal Platão,
Dedicava um pouco à mulher,
Diz ele, quando ela diz não,
Teima, vences, eu t’assevero!
Quem pinta amor e zelos,
É mesmo pintor ou trovador,
Ambos vão ter pesadelos,
Aguentá-los é ser…Lutador!
Não me queres, é, castigo,
Sou velho, sem fibra esquece,
Ouve melhor o que te digo,
O coração nunca envelhece!
Chega morte, sempre oculta,
Que nos envolve n’uma teia,
Que n’um momento nos sepulta,
Ali, n’uma cova funda d’areia!
Se na rua m’encontrares,
Não me podes dar valor;
Eu já estou feito em pesares,
De pensar no teu amor!
Vem, morte escondida,
Derruba o maior império,
N’um momento nossa vida,
É pedra, cruz, no cemitério!
Apesar de eu ser tão pobre,
Deixa-me, ao menos meu canto,
Um grito d’uma alma nobre,
Prra muitos é um espanto!
Co’a morte tudo termina,
Pra quê nénias e atenções,
Sabe-se que dona Libitina,
Não a movem as lamentações!
Esquecer-te, meu amor,
Há-de ser a vez primeira,
Quando não rebentar a flor
Ali no jardim a laranjeira!
. AMIZADE É: Um conselho é ...