SAUDADE DA VELHA LISBOA
Ó LISBOA! Velhinha LISBOA,
De todos poetas fostes poesia,
Na Mouraria! Alfama e Madragoa,
Todos t’enfeitavam com proa,
Eras como amante que se qu’ria!
Recordo tuas airosas varinas,
Rua a baixo rua acima:
--Ò freguesas! Ó Meninas,
Venha ver as minha corvinas,
Têm frescura que anima!
Eram lindos os pregões antigos,
Ecoavam sonantes nas vielas:
-Ó freguesa olha os belos figos,
Estes são só prós amigos,
Colhidos nas saloias courelas!
Lá iam os lépidos ardinas,
Sempre a correr, sempre a cantar,
Co’as noticias matutinas,
Com impudor de certas “meninas”,
Apanhadas à esquina a copular!
Não havia lésbicas nem gay’s???
Ou pornografia descarada,
Pra tudo havia rígidas leis,
As “meninas” tinham seus bordeis,
Ai, de quem forçasse a entrada!
Hoje Lisboa virou ao avesso,
Acabaram de vez co’as tradições,
Aclama-se o sexo sem tropeço,
Que’enoja o pertinaz apreço,
Fazem, dizem, por meros tostões!
Ó Lisboa, quem te conheceu,
Como bem por dentro te conheci
Chiado! Martin Moniz! Coliseu,
Tudo tinha verniz e apogeu,
Que dor hoje o que vejo aqui!
Era o alvoroço no Politeama,
O Coliseu, com casa cheia,
Por ali toda noite em chama,
Havia no Condes bom programa,
Sempre bons filmes com tareia!
No final zás, era ir ao Bonjardim,
Ou ao cacau quente à Ribeira,
Em cima, na Trindade um festim,
Lisboa n’esse tem era, sim,
A castiça Lisboa verdadeira!
Até mesmo o velho Bairro Alto,
Já perdeu todo seu feitiço
Os bordeis não têm áureo asfalto,
No ext’rior é um sobressalto”,
Farta-se, enoja tanto reboliço!
Lisboa! Jamais será o que era,
Como a diversão no Parque Mayer,
Meu Deu, que alegre atmosfera,
Que todo alfacinha tinha venera,
Como Lisboa fosse sua mulher!
. AMIZADE É: Um conselho é ...