QUADRA GLOSADA 266
Mote
Amor d’espécie tão vária,
Quem teve a ideia de pôr
Tanta coisa contrário,
O mesmo nome ao amor!
=DE FERNANDES COSTA 1849/1922 =
Voltas
Saber é…sempre saber e já
Isto é teoria necessária,
Todos sabemos, na vida há
Amor d’espécie tão vária!
Co’a musa não pensabem,
Ao envolve neste teor,
Ventura eterna, foi alguém
Quem teve a ideia de pôr…
…Ventura? Sem ter exp’riência,
Real, pelo menos diária,
O amor diz: com frequência,
Tanta coisa contrária!
Que ignaro, mostra mais,
O grau nato impostor,
Há quem chame aos “REAIS”,
O mesmo nome de amor!
O SONETO E OS SONETISTAS.
Deu-lhe Bocage suas inimitáveis facetas,
Nobre saudade, alma real, sup’rior,
Bulhão! Camões! Deus! Quental todo amor,
Tantos mais que divinizaram sua Julietas!
O soneto sempre foi o recheio do trovador,
Onde brilharam todos poetas dos planetas,
Nesta classe todos gastaram suas canetas,
Que nos deixaram obras, com máximo primor!
Há sonetos que seus autores foram vedetas,
Drummond! Abreu…Ó tantos de quem sou leitor,
Igual nenhum poeta lhe passa as palhetas…
Todo poeta tem que ser profundo sabedor,
Da cultura geral, desde léxicos aos cometas,
De pansofia ao enigma a decifrar do amor!
A HISTÓRIA DE UM BEIJO!
Era noite! Ó noite aquela
Com luar, quase aguarela,
Junto da minha linda donzela
Roubei-lhe um beijo, supunha
Por perto não havia sentinela,
Mas afinal, havia testemunha,
Pois uma estrela no Céu ciosa,
Que no oceano caíra ruidosa,
Disse à rocha, a rocha à vaga,
A vaga repetiu ao pescador,
O tumulto da vaga s’estraga,
Torna-se na praia um clamor,
Que aquele beijinho d’amor,
Seu encanto se perdeu na fraga,
Entretanto um lindo beija-flor,
Foi pombo-correio encantador,
Nosso beijo, o guarda, o afaga
Foi-se a maré-cheia o esmaga,
Assim o segredo d’aquele beijo,
---Aliás, digo foi meu primeiro---
Uma gaivota aproveitou o ensejo,
Pelo firmamento fez festejo
Em IPANEMA, Rio e Janeiro,
Foi sim, um arraial verdadeiro,
Ali tudo se beijou com ardor,
Que teve tanto, tanto desejo,
Que um homem caiu de joelhos,
Que entusiasmou novos e velhos,
Que no Corcovado do Redentor,
Pediram inflamados com fervor,,
Sem consultar os evangelhos,,
A pedir beijos em seu redor,
……………………………………………….
Dar beijos ou caricias d’amor,
Uma onda gigante da praia,
Podem crer um noite s’ensaia,
Leva todos do RIO à linda ALVOR!
=== Linda VILA Algarvia ===
FANTASIA DA POESIA
Isto é a fantasia que qu’ria,
Mas a minha pobre poesia,
Por vezes tem certa valia;
Outras simplesmente vazia!
Pelos teus olhos cor d’anil
Por teus compridos cabelos,
Eu seria pra ti, um servil,
A dedicar-te mil zelos…
…Que depunha aos teus pés,
À noites em horas propícias,
Punha de parte os librés,
Pra t’encher de mil caricias!
Mas como és nobre rainha,
Deves qu’rer muito mais,
Se quiseres serás minha,
nesta cama sem lençóis reais!
Faz aqui minha sepultura,
Sem pompas ou mordomias,
Morro, na máxima ventura,
De te ver despir todos dias!
Assim, teu olhos castanhos,
Serás alvo d’um fantasma,
Pra ti com efeitos tamanhos,
Pra mim já m’entusiasma!
Isto não é macabro convite,
Nem mesmo me causa horror,
Talvez teu olhar me ressuscite,
Com tão fixo olhar d’amor!
UM POETA?... UM MISTÉRIO!
Ser poeta não é apenas dizer grandes coisas,
Mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras.
(Mário Quintana)
O poeta goza deste privilégio incomparável:
Pode a seu capricho ser o mesmo e ser outro.
(Charles Baudelaire)
A vida de um poeta é como uma flauta na qual
Deus entoa sempre melodias novas.
(Rabindranath Tagore)
Eis o poeta, em lindas trovas,
Que compõe quando se inspira,
Quase sempre doce e novas,
No fundo, são claras provas,
Que romântico do peito tira!
Oferta às virgens donzelas,
Que envolve toda sua ideia,
Que lhe chama aguarelas,
Que pinta com cores belas,
E dedica à sua Dulcineia!
O poeta é uma fonte a compor
Sobre toda beleza feminina,
Que nos segredos do amor,
Mostra bem que é trovador,
Co’a inspiração que o domina!
Um poeta só transcreve o que sonha,
De dia, noite segundo a segundo,
Seja coisa feia, doce ou risonha,
Enfim toda trova que componha,
É ele próprio em seu mundo!
Trata o mistério da melancolia,
E, sentimentos fundos, diversos,
Tenta pôr na maldade alegria,
No amor toda sua sabedoria,
Sempre com conselhos submersos!
Um poeta não é o qu’escreve
Quando sorri, ali há pranto,
Inflama-se, está sob neve,
Até a música é som breve,
A recordar amou tanto, tanto!
Quem tente desvendar um poeta,
É difícil, nem que sábio seja,
Sua vida é total incompleta,
É personagem social, ou asceta,
Tenta ser humano, mas pragueja!
Precisa de ter lido algo de: Pessoa,
Deus! Verde! Dias! Bocage ou Nobre,
Há muita leitura poética boa,
Quem gosta, logo a alma voa,
Que a Musa e Egéria descobre!
A rima poeta tem sempre verve,
Sabe de mitos, lendas e…companhia,
Quem no fundo leia ou observe,
É assim que ele com alma ferve,
Pra falar da mulher com poesia!
Todo poeta tem em sua mente,
Mulher que foi amante ou…drama
Que passou, viveu ou inda sente,
É segredo que guarda no consciente,
Inda o faz sofrer ou arde a chama!
Os motivos qu’escreve é segredo,
Lembrança viva quando estudante,
Torna-o louco com certo medo,
Não passa de ser alguém que cedo,
Sofreu d’amor quando foi amante
VIDA SEM MULHER IMPOSSIVEL!...
Os homens fazem as obras, mas as mulheres fazem os homens." (Romain Rolland)
Nas horas graves as mulheres se impõem pela
sensibilidade, paixão e iniciativa, superiores às dos homens.
(Jules Michelet
Em tudo vão aos extremos as mulheres –
ou são melhores ou são piores que os homens.
(Jean de La Bruyère
É a mulher o alvo dos nossos pensamentos,
Que leva, hoje, amanhã ao nosso destino,
Que nos liberta d’um dúbio desatino,
Uma séria companheira de todo momento!
Homem sem mulher é, um triste peregrino,
O rumo da vida tem um porto cruento,
Velhice! Solidão! Incapaz vê o tormento
Então, compreende a mulher é, ANJO DIVINO!
Quando encontrar tal mulher, não seja “jumento”,
Procure ser mel! Manteiga e, tudo mais, fino
Pra no inverno que, vai ter grato tratamento…
Na vida, tudo acaba, tudo passa; ensino
Que se deve ver, pensar, adivinhar atento
Um homem sem mulher é um grande cretino!
NOVAS TROVAS 77
O tempo é lento mas avança,
Vence tudo com facilidade,
Opera em nó a mudança,
N’um oceano de saudade!
O bosque está sem lei
Milhões de folhas pelo chão;
Assim, todos que amei,
Um a um, morrendo vão!
Ando a fugir de te amar,
O que m’espera, sei bem
O que quero é invulgar,
Pois só de teu bem qu’rer vem!
Quando um dia a vi descer,
A escada com saia aos folhos,
Foram momentos, julguei qu’er
Que faiscavam meus olhos!
Esses teus olhos, morena,
São duas estrelas brilhantes,
Quando me fitam; ó cena
Sinto logo por instantes!
Vou mostrar-te todos degraus,
Da escla do bem-querer,
Desejo! Prazer! Sonhos Caos,
Que meu peito faz arder!
O banco! O Bosque! A sombra!
O anil do céu tudo a nu…
Tudo meu bem, m’assombra,
Falta o melhor, faltas tu!
É o amor, igual um prego,
Que, se chega a entortar,
Nem com força, nem com jeito
Que se consegue pregar!
Dizes que me queres, seja
Dizes que morres por mim,
Morre, de modo que veja…
Meu bem, depois dizer que SIM!
Dizem que há céu e inferno,
Eu já passei pelos dois:
O inferno quando eras terno;
O Céu que passamos depois!
Não sabes como te quero,
Nem mesmo qual é o fim,
Se soubesses, eu t’assevero
Já tinhas voltado pra mim!
Sentei-me lá no teu portal,
Ali me pus a matutar,
No pouco que gente vale,
--Quando nada temos que dar!
. AMIZADE É: Um conselho é ...